quarta-feira, 4 de maio de 2011

Praça da Sé

Praça da Sé
            Maricell


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Um chicote que explode no ar
A mão que se estende em direção ao nada
Capoeira
Contínua luta de sobreviver
Num mundo desigual...
Olhos vazios
Bocas famintas
Olhar de medo
A olhar o medo no olhar
dos que ali vagueiam...
Bugigangas
Fumaça
Jogo
Trapaça
Trapos
Farrapos
Espalhados pela praça...

 
Em frente, a Catedral...

Passar...
E passo a passo

-ria
-da-             
-ca-                           
-es-                                     
-a-                                                   
-bir-                                                             

-Su-                                                                           

 
Transpassar o portal...
Silêncio...
O canto que se ouve em cada canto
É de paz...
É outro o tempo que se faz neste templo
A luz a adentrar pelos vitrais
Confunde as horas
E o passado se faz presente...
Pinturas, esculturas, mármore rosa
Enormes pilares
Torres
Imenso silêncio...
Tudo conduz à reflexão
E fica-se a pensar
 
Na capacidade do Homem

Que constrói o belo
Que transforma madeira, vidro, pedra e aço
Em poemas de amor e vida
Como operário
Sempre em construção...
E fica-se a pensar
Na capacidade do homem
Que da madeira, do vidro, da pedra e do aço
Faz armas
Para a destruição... 
A mesma luz que ilumina os “lá de fora”
Perpassa pelos vitrais
E em difusa luz
Ilumina os que aqui estão... 
Des-
               -cer-
                            -a-
                                    -es-
                                                -ca-
                                                             -da-
                                                                          -ria-
onde tantos já pisaram
Vozes a clamar por justiça
Mãos a pedir pão
Olhos a pedir amor... 
Escadas...
Elos interligando mundos que se entrelaçam
Em tão iguais
E (in) diferentes espaços...
Olho...
Nada faço...
Apenas  passo...
                                           Maricell - maio 2004

poema de Maria Célia Zanirato

Um comentário:

  1. Belíssima tradução da Praça da Sé! São conflitantes e opostas não apenas a subida e a descida das escadas, mas também a paz dentro da igreja e a vida suja e desvivida na praça: o silêncio na catedral e os gritos na praça; os passantes da praça que caminham rápido e com medo, e os que nela se recolhem sem pressa de se mover, sem motivo prá viver.

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