quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Gênesis - Oitavo dia

Era apenas um Sonho Infindo
Onde o Senhor dos Sonhos morava
E eram trevas
Que se fizeram luz
Pela Palavra.
E foi o primeiro dos dias
Materialização primeira do Sonho
 
Havia o Céu e a Terra
Elementos misturados
Abismo sem formas
Tomado pelas águas
Onde o Sonho flutuava...
E a Palavra, separando os elementos
Oceanos, mares e terra criava...
E assim o segundo dia terminava...
 
E era  Sonho, e era Palavra....
 
E eram Mãos...
Mãos que no terceiro dia,
Sementes que dormiam no solo, tocava
E da terra germinava o verde
Em frutos, perfumes e beleza
E assim, o terceiro dia findava...
 
E era  Sonho, eram Mãos e era Palavra...
 
E eram Olhos...
Olhos que no quarto dia
Espalharam-se pelo espaço
Transformando-se em estrelas, em sol e em luar
E dos olhos de Sonho, dia e noite se criava
E assim, o quarto dia acabava...
 
E era Sonho, eram Mãos, eram Olhos e era Palavra...
 
E no raiar do quinto dia
As Mãos de novo se estenderam
E delas  brotaram pequenos e grandes animais
Golfinhos e borboletas,
A enfeitar céus e oceanos
A vida era bela
Era o paraíso...
Havia ninhos...
E canto de passarinhos
Havia Paz...
E assim se fechava o quinto dia...
 
E era Sonho, eram Mãos, eram Olhos e era Palavra...
 
É noite...
Os Olhos se fecham, a Palavra se cala, as Mãos descansam...
O Sonho adormece...
E sonha...
Sonha com criaturas à Sua imagem e semelhança...
Seres que dêem continuidade ao seu sonho...
 
E era Sonho, eram Mãos, eram Olhos e era Palavra...
 
 
Amanhece o sexto dia...
Os Olhos procuram a matéria para a realização do sonho
As Mãos carinhosamente modelam o barro
Materializando o Sonho
E a Palavra lhe dá vida...
À Sua imagem e semelhança
O Homem é concebido.
É findo o sexto dia...
 
E era Sonho, eram Mãos, eram Olhos, era Palavra...
E era o Homem...
 
No alvorecer do sétimo dia
O Sonho descansa... E diz ao Homem:
__ É todo teu este paraíso
São teus os peixes dos rios e mares
E as aves do céus
São teus todos os animais que povoam a terra
Teus são os límpidos mares e os regatos cristalinos
Teus são os frutos, as flores e as cascatas
São tuas as matas e os jardins
Foste feito à minha imagem e semelhança
És meu sucessor na criação
Em tuas mãos deposito o poder de dar continuidade ao paraíso.
Começarás amanhã, e o amanhã será o oitavo dia...
E assim  terminava o sétimo dia
 
E era Sonho, eram Mãos, eram Olhos, era Palavra...
E era o Homem...
 
E o Homem tomou o paraíso em suas mãos
E se fez Senhor do Sonho...
 
Luz e sombra...
Espelhos quebrados.. Imagens distorcidas pelo chão...
Abre-se o último portal onde o silêncio reina
E há um calado grito de solidão executando a dança da partida...
O paraíso já não existe...
Devastado que foi pela ganância dos que nunca tiveram olhos para vê-lo..
As Mãos pendem inertes
Os Olhos já nada vêem, pois há só fumaça onde houve luz
E a palavra se cala...
Sequer se ouve o clamor
Dos que tentam resgatar o paraíso...
As bombas falam mais alto
E o Homem, predador da própria espécie
Só consegue ver armas
Onde existia a poesia...
Bombas e mortes... Fome... Devastação...
Não houve Oitavo dia
*****
Mas ainda resta uma esperança
Pois o Sonho é infindo
 E continua vivo
O Sonho Nosso de todo dia....
Maricell - 11/janeiro/2004
 
Maria Célia Zanirato 

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